domingo, 31 de março de 2013

Parabéns - Para " Suely - Olindo "- Hoje é o seu Aniversário.


Hoje apenas disse:
"Parabéns pelo seu aniversário".
Meu Deus faltou-me palavras,
Palavras doces, porém quentes,
Palavras,... até um pouco indecentes,
Que lembrem os segredos da gente!...
Palavras que expressem ternura,
Mas que despertem também
Aquele fogo, aquela quentura,
Que dispensa cobertor no inverno
E por outros motivos, dá cãibra nas pernas.
Mas estou aqui me redimindo,
Fugindo as formalidades,
Com o pensamento cheio de malícia,
Pra te dizer minha vida,
"Que as noites são testemunhas
Do tanto que eu sou feliz
Por passear no teu corpo,
Por adormecer no teu colo
E por vez em quando te aborrecer."
...Tenhas o meu ombro a disposição,
Não pra chorar...para sorrir, para sonhar..
Deixe que os anos nos envelheçam,
Porque meu olhos estarão cegos,
E ainda mais novo o meu ego,
Para que o amor sempre rejuvenesça
E sempre mais bela, você me pareça.


A Vida em Cordel - Olindo Santana

Toda a minha vida, um grito constante de desespero.
Como se a mim, a vida se recusasse, se entregar por inteiro.
E pelas partes dessas metades, diversas infelicidades,
Uma mente ansiosa, um corpo bastante cansado,
Formam um todo agonizado, perdido meio as verdades.
Suponho que desmerecido, por tantos erros cometidos,
Ainda na aurora de minha vida, uma infância quase esquecida,
Que não me lembro de recordar, só por não querer voltar,
A uma história esbagaçada que lembrar não leva a nada.
Preciso de um conforto completo, de corpo e de espírito.
De alguns anos bem vividos, sem muitos dias corrompidos.
Preciso de caminhos que não esbarrem nas pedras,
Preciso de pedras que construam um novo caminho.
E quando a chuva eu molhar com gotas de prantos meus,
Que seja só de felicidade, e que isso sim, me traga saudade,
E que os meus versos de verdade, contem com sinceridade,
O quanto que a vida é boa, quão grande sua generosidade.
Por final do desconforto, não conto só o desgosto,
Afinal corpo no corpo, a figura de uma mulher me há,
Para eu sempre agradecer à acolhida, ela nua ou vestida,
Pois são dela a minha melhores memórias,
As mais quentes memórias da minha vida,
E são essas as únicas e justa razões, muito comprometidas,
Que eu continuo ainda insistindo, em acertar na minha vida.

quinta-feira, 28 de março de 2013

Trato de Amor - Olindo Santana

Podemos fazer um trato,

Um trato feito com amor:
"-Não te maltrato,
A mim não maltratas,
E o rio corre em flor!"

Honramos o compromisso
De que o amor " não é omisso ",
Aí, fica tudo mais fácil,
E o sol brilha
Nas nossas vidas!


Os Amantes - Olindo Santana

Depois do exercício frenético
de dois corpos oscilando
na dança frenética do amor,
não há silêncio que resista,
diante tanto consumo de ar,
que em combustão contida,
ainda consome o fogo
brando do descanso,
contido apenas pelo cansaço
de dois corpos extenuados.
Se foram gritos forte de amor,
incomodando a paz da madrugada,
a ofegante respiração,
silenciosa, porém quase agonizante,
são consequências do exagero
de dois humanos virando animais
e dois animais querendo mais,
no instante sublime, mas impaciente,
que cedem ao desejo da carne,
porque os amantes não se contentam,
tão pouco se satisfazem ,
nem tendo as bocas como mordaças.
Por fim, quando pouca energia,
no corpo então lhes resta.
Quando o silêncio e a madrugada
já não testemunham a festa,
um raio de alegria medonha,


ainda ilumina o quarto, suavemente,
enquanto os amantes sonham.



terça-feira, 26 de março de 2013

Felicidade - Guilherme de Almeida



Ela veio bater à minha porta
E falou-me ao sorrir, subindo a escada:
"- Bom dia, árvore velha e desfolhada"
E eu respondi: "- Bom dia, folha morta!"

Entrou: e nunca mais me disse nada...
Até que um dia ( quando, pouco importa! )
Houve canções na ramaria torta
E houve bandos de noivos pela estrada...

Então chamou-me e disse: "Vou-me embora!
Sou a felicidade! vive agora
Da lembrança do muito que te fiz"

E foi assim que em plena primavera,
Só quando ela partiu contou que era...
E nunca mais eu me senti feliz!




Difícil aceitar que felicidade tem que ser repartida; que não é pra ser sentida, porém vivida. E que quase sempre está tão perto, quando a buscamo tão longe.
O inconformismo de querer mais e mais, às vezes leva ao desprezo do que é mais significativo, mais importante.
E banaliza-se tanto, com frases do tipo: "não tenho tudo que quero, mas amo tudo que tenho", ecos desprovidos de sentimentos e razões, porque a prática, essa é bem diferente.

A um braço perdido do Menino Deus de Nossa Senhora das Maravilhas, quando apareceu ( Gregório de Matos )

O todo sem a parte não é todo,
A parte sem o todo não é parte,
Mas se a parte o faz todo, sendo parte,
Não se diga que é parte, sendo o todo.

Em todo o Sacramento está Deus todo,
E todo assiste inteiro em qualquer parte,
E feito em partes todo em toda a parte,
Em qualquer parte sempre fica todo.

O braço de Jesus não seja parte,
Pois que feito Jesus em partes todo,
Assiste cada parte em sua parte.

Não se sabendo parte deste todo,
Um braço, que lhe acharam, sendo parte,
Nos disse as partes todas deste todo.




Gregório de Matos é o primeiro poeta "brasileiro" de primeira grandeza. Assim como o Barroco é o primeiro movimento literário que se desenvolve no Brasil.
A vida de Gregório é um tanto quanto controversa, isto se explícita nas suas escritas, às vezes lírica, às vezes irônicas e outras sacras. O que também dá pra dizer, que tem Gregório para todos os gostos.

segunda-feira, 25 de março de 2013

Cá Plantado - Olindo Santana


Um nuvem no céu desenha seu rosto,
O sol que ilumina, a deixa divina,
O vento que sopra, me traz sua voz,
Mas a chuva que cai, a tudo desfaz.

Nem a conheço e porque tanto quero.
Porque me inquietas a minha razão.
Outro dia vi caí uma estrela,
Corri apressado só para vê-la,

Quase sem respirar,
Não, você não estava lá,
Mas lá fiquei a esperar,
Quem sabe caísse outra estrela

Para o pobre terrestre confortar.

Ainda estou cá plantado,
Quase que criando raízes,
Com tantos pensamentos infelizes,
Que podem deixar cicatrizes.

Não deves mais demorar,
Meu Deus! Como pude do nada te amar!
Acredito que fiquei louco,
Tá na hora de acordar.

Da Gente - Olindo Santana


O coração da gente é assim,
Se alegra com o primeiro sorriso,
Chora com um único adeus
E se renova com a primeira promessa.

Os sonhos da gente, não diferente,
Projeta futuros contentes,
Contesta o dia presente
E finge que não se arrepende.

A vida da gente? É igual,
Chora por coisa banal,
Porque o coração anda mal
E os sonhos dizem: - tchau!!!...




domingo, 24 de março de 2013

Ladainha - Cassiano Ricardo

Por que o raciocínio,
Os músculos, os ossos?
A automação, ócio dourado.
O cérebro eletrônico,
O músculo mecânico
Mais fáceis que um sorriso.

Por que o coração?
O de metal não tornará o homem
mais cordial,
Dando-lhe um ritmo extra-corporal?

Para que levantar o braço
Para colher o fruto?
A máquina o fará por nós.
Por que labutar no campo, na cidade?
A máquina o fará por nós.
Por que pensar, imaginar?
A máquina o fará por nós.
Por que fazer um poema?
A máquina o fará por nós.
Por que subir a escada de Jacó?
A máquina o fará por nós.

Ó máquina, orai por nós.




Inicialmente, eu gostaria só de lembrar que Cassiano Ricardo morreu em 1974, mas ainda era uma época em que se podia prever um mundo futuro com muita antecedência. Acredito que no momento isso nos seja
imprevisível, uma vez que definitivamente nos pareça, que finalmente, o termo impossível não mais se encaixa nas perspectiva de criatividade e criação do homem. E como que do nada, de repente tudo pode acontecer. Parece que a verdadeira mágica existe e é a ciência.
Como Cassiano Ricardo também me pergunto: - Meu Deus, aonde vamos parar? Até quando o homem ainda será homem? Sim, porque humano, a maioria já deixou de ser faz tempo. Haja vista todo egoísmo, toda ganância, toda vaidade, toda indiferença..., quando ainda nem máquina o é. E no futuro frio.
Acredito que todo garoto que leu esse poema, na época ou próximo, quando ainda, o gravador ou toca-fitas era um fascínio, ficou encantado. Lembro-me que por tradição eu orava ou rezava várias vezes, ainda muito religioso, cantava muitos hinos, e me veio a indagação, será que seria realmente lícito gravar minhas orações e repeti-las ou seria sacrilégio, pecado.
Tudo que sei, é que nem o próprio Cassiano, não imaginou como seria, onde já estamos, e como está acontecendo rápido...,


que já me foge a "utopia".

Motivo ( estrofe ) - Cecília Meireles

" Eu canto porque o instante existe
E a minha vida está completa.
Não sou alegre nem triste:
Sou poeta ".



      " O instante " . Para muitas pessoas o que importa é viver o momento, para outras, felicidade não existe, o que existe são momentos felizes. Minha opinião, essa me reservo ao direito de discordar.
      Como o primeiro verso inicia em primeira pessoa " Eu ", o direito subjetivo de cada um, que não reclame depois, pois a única coisa que fica, é o que construímos... O primeiro verso mostra a importância de viver o presente, o momento e o lugar para ser feliz é aqui e agora. O passado não volta e o futuro é indefinido, porque envolve também ações e atitudes alheias.
     No segundo verso é claro a valorização do presente, " vida completa ", a justificativa de porque cantar,
aproveitar, o desapego à ideia de transformação.
     Os dois últimos versos, na minha opinião o ápice da poesia, não precisaria sequer dar continuidade. " O ser poético ", esse espírito diferenciado, que Fernando Pessoa denominou de " fingido ". Quem sabe quando  
o escritor ou o eu lírico está presente, os críticos ? Quanta certeza que eles tem!
     Mas como é linda a visão de mundo do poeta. A capacidade de criar e recriar realidades através das palavras, palavras que para ele surge com tanta naturalidade, e claro impessoalidade, por predominância.
      Por fim, acredito que Cecília Meireles consegue dizer pra todos o que é o poeta, aí, meditar sobre as ações quando "alegre" ou "triste", e toda uma potencialização de sentimentos que almas comedidas jamais compreenderão.


     

sábado, 23 de março de 2013

Coração - Olindo Santana

Agora és capaz coração,
De enfim, terminar aquela velha canção.
O violão, há tanto desafinado,
Não ficará mais, no armário trancado.
Eis que a bela figura sem alma,
Novamente, atormenta-me a calma.

Aqueles momentos de desejos perdidos,
Quisera estivessem, também esquecidos,
Mostrou a cara da sua desgraça.
E novamente a mim me ameaça,

De me envolver em mentiras,
Criadas e contadas por astutas "Curupiras".


Acorrentado aos véus da sedução,

Sem desejo nenhum de liberdade, então,
Só desejo desfrutar, pecar, mergulhar
Até o fundo do poço aonde ela está.
Mas, não tenhas de mim piedade,
Nem me julgues por minha infelicidade.

Como belo cúmplice que me és,
Tenha comigo a ruína dos infiéis.
Não tenho, nem tenha, lamentos à toa,
Porque as coisas ruins, também são boas,
Mancha o espírito, abusa do perdão,
Mas a carne delira de satisfação.

E em meio a toda essa consciência,
Pequei, pequei, pequei sem pedir clemência.
Ao meu lado, não mais bela, mas desfigurada,
Não era eu, mas ela, a alma penada.
Querendo amor, pedindo paixão...
Um pouco tarde, quando já sacrifiquei meu coração!


                         










sexta-feira, 22 de março de 2013

Nós Dois - Olindo Santana

Nós dois e o tempo,
E o tempo contra nós dois.
E o contra-tempo no tempo,
Antes e depois.
Nós dois correndo,
Correndo o tempo,
Para nós menos tempo,
E a saudade nascendo,
Nós, os dois envelhecendo...
O amor amadurecendo,
Menos tempo,
Ele correndo...
A frustração...
Mortal descontentamento,
Posso perdê-la a qualquer momento,
Seja meu, seja teu,
O final do nosso tempo,
Que não precisa de consentimento.
Tenho medo de perdê-la,
Não tenho medo de morrer.
É que em  outra vida
Não existe Nós,
Só existe Eu sem Você.
Porque o tempo,


Esse não quer nem saber.

Balada de Santa Maria Egipcíaca - Manuel Bandeira

Santa Maria Egipcíaca seguia
Em peregrinação à terra do Senhor.

Caia o crepúsculo, e era um triste sorriso de mártir.

Santa Maria Egipcíaca chegou
À beira de um grande rio.
Era tão longe a outra margem!
E estava junto à ribanceira,
Num barco,
Um homem de olhar duro.

Santa Maria Egipcíaca rogou:
- Leva-me ao outro lado.
Não tenho dinheiro. O Senhor te abençoe.

O homem duro fitou-a sem dó.

Caia o crepúsculo, e era como um triste sorriso de mártir.

Não tenho dinheiro. O Senhor de abençoe.
Leva-me ao outro lado.
O homem duro escarneceu: - Não tens dinheiro,
Mulher, mas tens teu corpo. Dá-me teu corpo e vou
                                                                             [ levar-te.
E fez um gesto, e a santa sorriu,
Na graça divina, ao gesto que ele fez.
Santa Maria Egipcíaca despiu
O manto, e entregou ao barqueiro
A santidade da sua nudez.




Ao ler o poema, a análise recai à figura da jovem viciada em sexo, que depois de arrependida, entregou-se a uma vida de oração em busca de purificação e de perdão.
Eu, leio-o sorrindo calado, deslumbrado com a sutileza da ironia nele contido. Fascina-me também a imagem da nudez da santa. Eu chego a vê-la em minha imaginação, porque é notório que o pecado habita em mim e a construção da mulher santa também é minha..
Por fim a ideia do tabu, o sexo ( como pecado ), que a Santa ao passar deste mundo para o outro, haveria novamente pecado, abrindo assim, mão da própria santidade, mesmo diante de uma figura que desejo nenhum despertasse ( o barqueiro ). Porém pela força do sexo marcado na pele, que muitas vezes torna-se compulsivo em alguma pessoa ( um vício ).
Deixo claro que essa é uma análise puramente emocional e pessoal. É que acredito que a poesia às vezes foge a análise técnica, desprovida de emoção. Porque realmente o único que pode dizer o que queria dizer,


é realmente que escreve, assim como poderia ser deslumbrante a imagem do " barqueiro " para a santa.

Trecho Poético - Olindo Santana

" ...Viajei por tantos mundo
E te amei cada segundo,
Tão profundo,
Que o universo inteiro
Se curvou pra ver você.

Vi o sol amanhecer,
Vi o céu anoitecer,
Mas nenhuma estrela
Brilhou mais do que você!

quinta-feira, 21 de março de 2013

Tercetos - Olavo Bilac

Noite ainda, quando ela me pedia
Entre dois beijos que me fosse embora,
Eu, com os olhos em lágrimas, dizia:

" Espera ao menos que desponte a aurora!
Tua alcova é cheirosa como um ninho...
E olha que escuridão há lá por fora!

E como queres que eu me vá, triste e sozinho,
casando a treva e o frio de meu peito
Ao frio e à treva que há pelo caminho?!

Ouves ? É o vento! é um temporal desfeito!
Não me arrojes à chuva e à tempestade!
Não me exiles do vale do teu leito!

Morrerei de aflição e de saudade...
Espera! até que o dia resplandeça,


Aquece-me com a tua mocidade!

Sobre o teu colo deixa-me a cabeça
Repousar, como há pouco repousava...
Espera um pouco! Deixa que amanheça!"
- E ela abria-me os braços. E eu ficava.


O poema expressa sentimentos de amor, de ternura, de apego...além de um forte sensualidade que lhe transborda por todo texto. É o lado de Bilac, que foge ao perfil exigente do parnasiano. Porém como condená-lo. quem estando totalmente agasalhado, nos braços de quem se ama, vai dar valor às horas, se nesses momentos, os tempo é o que menos importa.

quarta-feira, 20 de março de 2013

Princípio -Olindo Santana

A princípio tudo calou.
 Lábios presos, ouvidos surdos,
Mentes confusas e pernas tortas...
Mensagens mortas...  nada comunicou.

O infeliz mensageiro
Que a palavra adeus pronunciou,
Com uma estranha frieza,
Também não mais se manifestou.

Havia uma pergunta perdida,
Havia uma lágrima contida,
Um pesadelo que não acordava,
Uma resposta que não chegava.

Tudo, tudo tudo ignorado...
Quando as pernas enfim responderam,
Chiados de passos se afastaram,
E os lábios presos continuaram.

Na mente, verdades que eram mentiras,
Ganhavam formas inadequadas,
Porque estava tudo tão inexplicado,
Que por princípio, nenhuma lágrima


       Foi derramada.






Metamorfose - Cassiano Ricardo

Meu avô foi buscar prata
mas a prata virou índio.

Meu avô foi buscar índio
Mas o índio virou ouro.

Meu avô foi buscar ouro
mas o ouro virou terra.

Meu avô foi buscar a terra
e a terra virou fronteira.

Meu avô, ainda intrigado,
foi modelar a fronteira:



E o Brasil tomou forma de harpa.