Uma Vez - Olindo Santana

Uma vez que da minha memória
se tornaste senhora absoluta,
uma vez que sendo parte da minha história,
nada de mim a ti se oculta,
uma vez que não te tenho segredo,
e te entrego sem medo o coração meu:
É justo, meu bem, que seja eu teu enredo,
nas linhas escritas do coração teu?
Porque, se assim tu me aceitas,
na justa medida da divisão perfeita,
a minha vida na tua se completa,
e completamente feliz, somente a ti se oferta.

Ah! - Olindo Santana

Ah! Se num momento de ternura,
você liberta a minha alma,
e me permite novamente cantar!

Ah! Se roda a roda do destino,
e tendo fim meu desatino,
eu volto novamente a sonhar!

Ah! Todos os caminhos que conheço,
eu juro até que eu me esqueço,
só pra nunca mais me magoar!

Ah! E vendo o mundo da esquina,
da minha janela vejo a menina,
que pode a minha vida mudar!

Juro, nunca mais faço besteira,
evito até más brincadeira,
pra nunca mais testemunhar
                o meu penar

Te Esperando - Olindo Santana

Eu já não sei até quando,
vou ficar esperando,
o teu momento pra mim.
Só, no silêncio da noite,
a solidão, um açoite,
furtando tudo de mim.

Estrelas estão me olhando,
no céu eu vou te buscando,
mas não conheço o caminho.
Se o teu olhar me alcançasse,
talvez você me guiasse,
pra junto do teu carinho.

Mas como vou te encontrar,
se aqui na terra é o meu lar,
enquanto você é de outro lugar.
Só sei que amo chorando,
e continuo esperando,
você, como um anjo, chegando...

Caminhos - Olindo Santana

Porque ainda não aprendi a apressar os caminhos...
Nem mesmo preocupo-me em acelerar os meus passos.
As batidas do meu coração tudo ditam,
e nada calam, nem negam, às escondidas.
Importa-me que haja carinho, e muita, muita emoção.
Vejo pessoas sorrindo, vejo pessoas sofrendo,
vejo pessoas fazendo tudo ou nada fazendo,
Mas afinal, ainda somos nós que levamos os caminhos.
Ainda somos nós escolhendo a estradas porque passamos.
Ainda somos nós decidindo se vivemos ou lamentamos.
E, por estranhas suspeitas, às vezes nos desviamos.
E, por desacato, rejeitamos as flores, rejeitamos amores,
para que se construa em nós mesmos as dores.
Porque ainda não encontrei caminhos que me levem,
é que levo a vida desviando cuidadosamente dos espinhos,
espalhados pelas estradas de quem anda sempre sozinho.

Coitado - Olindo Santana

Paixão é assim:
- Primeiro pede pouco,
depois, exige mais!
Chega toda despretensiosa,
quase que desinteresseira...
Recebe tudo,
considera nada,
e de repente, o outro,
se torna uma grande piada.
Cobra o seu corpo,
esgota o seu bolso...
Apresenta-te o desgosto...
Mas você, inteiramente alucinado,
desdobra-se equivocado,
que o todo seu,
será de bom agrado.
E o tempo vai,
a vida trava,
e você esbarra,
dia após dia,
em um novo confronto desenfreado.
Até que um dia você desperta,
ou então, depois de tanto sacrificado,
perde do mesmo jeito,
o que tanto tem desejado.
Vai ao dicionário,
e descobre que paixão,
também é sinônimo de " coitado ".
Com isso você não contava!

Dois olhares - Olindo Santana

São dois olhares que se encontram
e se incendeiam rapidamente,
presos a atração impulsiva
de algum momento solitário.

São duas bocas que se tocam
e se prendem instintivamente,
movidas pelo desejo compulsivo
de atiçar o fogo no sangue quente.

São dois corpos que se misturam
e se provocam e se consomem,
presos a satisfações carnais,
de obter prazer cada vez mais...

São duas almas que se afastam.
Completos estranhos desconhecidos.
É quase um ritual repetitivo,
e um entranho desencontro fugitivo.