domingo, 24 de março de 2013

Ladainha - Cassiano Ricardo

Por que o raciocínio,
Os músculos, os ossos?
A automação, ócio dourado.
O cérebro eletrônico,
O músculo mecânico
Mais fáceis que um sorriso.

Por que o coração?
O de metal não tornará o homem
mais cordial,
Dando-lhe um ritmo extra-corporal?

Para que levantar o braço
Para colher o fruto?
A máquina o fará por nós.
Por que labutar no campo, na cidade?
A máquina o fará por nós.
Por que pensar, imaginar?
A máquina o fará por nós.
Por que fazer um poema?
A máquina o fará por nós.
Por que subir a escada de Jacó?
A máquina o fará por nós.

Ó máquina, orai por nós.




Inicialmente, eu gostaria só de lembrar que Cassiano Ricardo morreu em 1974, mas ainda era uma época em que se podia prever um mundo futuro com muita antecedência. Acredito que no momento isso nos seja
imprevisível, uma vez que definitivamente nos pareça, que finalmente, o termo impossível não mais se encaixa nas perspectiva de criatividade e criação do homem. E como que do nada, de repente tudo pode acontecer. Parece que a verdadeira mágica existe e é a ciência.
Como Cassiano Ricardo também me pergunto: - Meu Deus, aonde vamos parar? Até quando o homem ainda será homem? Sim, porque humano, a maioria já deixou de ser faz tempo. Haja vista todo egoísmo, toda ganância, toda vaidade, toda indiferença..., quando ainda nem máquina o é. E no futuro frio.
Acredito que todo garoto que leu esse poema, na época ou próximo, quando ainda, o gravador ou toca-fitas era um fascínio, ficou encantado. Lembro-me que por tradição eu orava ou rezava várias vezes, ainda muito religioso, cantava muitos hinos, e me veio a indagação, será que seria realmente lícito gravar minhas orações e repeti-las ou seria sacrilégio, pecado.
Tudo que sei, é que nem o próprio Cassiano, não imaginou como seria, onde já estamos, e como está acontecendo rápido...,


que já me foge a "utopia".

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